Imagine um país que transforma seus campos férteis em vastos tapetes de árvores clonadas, onde nem mesmo uma borboleta ousa voar. Onde a agricultura dá lugar à monocultura e a diversidade vira palavra proibida. Bem-vindo ao Brasil das plantações de eucalipto, o país que trocou comida por celulose e povo por lucro.
A monocultura de eucalipto é uma doença moderna, espalhando-se pelo território como um câncer com metástase verde. Onde toca, destrói: seca nascentes, esteriliza o solo, exclui comunidades, extermina culturas locais. Tudo isso em nome de um progresso mentiroso, comandado por corporações que se fingem de boazinhas enquanto devoram tudo.
E o que dizem os porta-vozes dessas empresas? Que estão “preservando o meio ambiente”. Que plantam eucalipto para “compensar” a destruição. É o cúmulo da hipocrisia: um pirómano se dizendo bombeiro.
As gigantes como Suzano e Veracel tratam a floresta como um número, o solo como uma planilha de Excel. Dizem que plantam árvores, mas o que fazem é criar zonas mortas vegetais, que parecem floresta mas não são. São clones, cópias, estéreis, uma aberração da vida que suga tudo ao redor.
E o mais absurdo: transformam essas aberrações em discurso de sustentabilidade. Alegam que o eucalipto sequestra carbono, ajuda o planeta. Esquecem de dizer que esse sequestro acontece em solo arrasado, sobre o túmulo de comunidades expulsas, de biomas dizimados. É como um canibal alegar que ajuda a combater a fome.
Enquanto isso, os números impressionam — mas não no bom sentido. Um hectare de eucalipto emprega menos de um trabalhador por ano. Uma fazenda de 100 hectares de agricultura familiar alimentaria centenas e empregaria dezenas. Mas não, isso não importa: importa a exportação, importa a bolsa de valores. Importa a sede de um sistema que se alimenta de sangue, água e madeira.
As empresas falam em “manejo sustentável”. Um termo bonito, mas vazio. Porque não há sustentabilidade possível em algo que se baseia na exclusão, na concentração de terras, na mecanização total e na transformação do campo em fábrica. Essa lógica transforma o Brasil em um grande depósito de matéria-prima para o mundo, um quintal colonial moderno.
O impacto é profundo. Socialmente, afasta o homem da terra, destrói a economia local, empurra jovens para as periferias urbanas. Ambientalmente, causa erosão, perda da fauna e flora, alteração do microclima. Culturalmente, desintegra tradições, destrói vínculos com a terra, substitui saberes milenares por instruções de manual corporativo.
A monocultura do eucalipto é, portanto, um projeto de apagamento nacional. Um apagamento que começa no solo e termina na alma. E tudo isso respaldado por governos submissos, que chamam isso de “desenvolvimento”.
Mas desenvolvimento pra quem?
Porque para os povos tradicionais, para os pequenos agricultores, para os rios e os animais — isso é colonização. Isso é saque. É devastação.
É preciso romper esse ciclo. Dizer não a essa epidemia verde. Exigir reforma agrária, agricultura agroecológica, produção de alimentos saudáveis. O Brasil não pode continuar sendo o papel onde os outros escrevem sua história, enquanto nós comemos as migalhas desse falso progresso.
A monocultura de eucalipto não é o futuro. É o fim. O fim das águas, do solo, das comunidades, da esperança.
É hora de arrancar essa erva-daninha antes que ela nos arranque de vez a dignidade.